domingo, fevereiro 25, 2018

OTÁRIO DA SILVA CONTINUA SENDO ENGANADO

A hipocrisia continua. Depois que publiquei o post anterior, o Exército não foi atendido em sua reivindicação para ter o "direito de matar", o que reforça meu argumento de não estarmos em uma situação de guerra;
o mesmo Exército adotou o procedimento de fotografar moradores das comunidades para "checar informações junto ao banco de dados da Secretaria de Segurança"; a OAB e outros argumentam que tal procedimento é um ato ilegal já que a "lei estabelece que nenhum cidadão seja submetido à identificação criminal se estiver portando documentação civil", esquecendo estes que situações de exceção devem, forçosamente, serem enfrentadas com medidas de exceção; o programa do Alexandre Garcia, na GloboNews, reuniu três pretensos especialistas na área de segurança (vejam o rodapé deste post) que não deram a menor pista de resposta à pergunta do jornalista na abertura do programa: "Como se chegou a essa situação e quais as causas mais básicas?"(**); 
e no minuto em que começo a redigir este texto, me chega pelo whatsapp três áudios - ressalto que apócrifos -, pretensamente gravados por integrantes da "banda honesta", seja da Polícia Militar, seja do Exército, justificando a troca de coronéis da Polícia Militar por generais das Forças Armadas, com o objetivo de prender e levar a julgamento, sejam graduados ou praças, todos os que forem considerados "mão de macaco" (policial que aceita propina da bandidagem);
e a notícia de que os 60 fuzis apreendidos no Galeão em julho/17, enviados por Frederik Barbieri (hoje preso) que atua há 20 anos enviando armamento para o Brasil, por razões hipócritas, estão até hoje guardadas num depósito do Exército impedidos de serem repassados para a Policia Civil, ou para qualquer outra instituição da Segurança Pública que eles possam ter serventia.

A hipocrisia, portanto, continua, não importando de que visão institucional ou política ela venha. Não se quer olhar para o lado em que pululam as razões básicas da criminalidade no Brasil: 4º maior contingente de prisioneiros do mundo; 45% dos quais, sem sentença, aguardando julgamento;
um país que discute se a oligarquia no poder pode ou não ser presa depois de condenada em 2ª instância, mas que não se importa com isso quando se trata de jogar, por qualquer 10gr de droga, mais um jovem pobre-preto-mulato-branco, dentro de uma cela para 4 ou 5 onde já estão 30 ou mais; mais de 12 milhões de desempregados consequência de 13 anos de governos corruptos e irresponsáveis; fronteiras imensas e abertas com países produtores/exportadores de drogas; uma Constituição que protege e estimula o crime, pois a família do criminoso estará mais bem amparada com ele preso do que com ele desempregado; um aparato de segurança pública com equipamentos sucateados, formação insuficiente e salários aviltantes para quem se arrisca a morrer enfrentando bandidos(***) ;
a corrupção em metástase (está na moda) na hierarquia das forças policiais como reconhece o próprio general Etchegoyen;  a vida de cidadãos de bem das comunidades, subordinada às ordens e regras impostas por milícias e traficantes que se impõem pela total ausência do Estado; um Estado que, apesar de ainda se apresentar como apoiador do livre mercado e da livre iniciativa, tem uma das Constituições mais intervencionista do mundo, seja na economia, seja na vida dos cidadãos.

A hipocrisia surgirá como um tapa na cara de todos nós quando os não-resultados surgirem, porque eliminar as causas está, em sua maior parte, nas mãos de quem é causa.


É isso!

(*) Programa de Alexandre Garcia, na GloboNews, dia 21/2/18, com a presença do Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general  Sergio Etchegoyen, o Presidente do Conselho Administrativo do Forum Brasileiro de Segurança Pública, Cassio Thyone, ex-perito da Polícia Civil, e o Coronel da Reserva da PM, Robson Rodrigues da Silva, antropólogo, atualmente pesquisador do Laboratório de Análises de Violência da UERJ, e foi coordenador geral de UPPs.

(**)E desperta perguntas de como se chegou a essa situação, quais as causas mais básicas, que remédios adotar, quais as chances de se alcançar bons resultados depois que diagnósticos e receitas só viram a situação se agravar.

(***) 2017: 294 policiais baleados, 134 mortos (em 2016 foram 135).

Para quem quiser se aprofundar no tema "corrupção" aconselho a leitura deste trabalho “Fighting police corruption in Brazil: The case of Rio de Janeiro”, de Rick Sarre, tradução adaptada de Jorge da Silva, cientista político, Doutor em Ciências Sociais pela UERJ e professor-adjunto / pesquisador-visitante da mesma universidade.


Após a leitura do referido trabalho, enviei a seguinte mensagem para o professor Jorge da Silva:
Sou um cidadão comum, mas tenho um interesse especial em entender a corrupção. Li sua tradução de “Fighting police corruption in Brazil(...)" e me chamou atenção a não abordagem de uma faceta da corrupção que se apresenta, especialmente, em agentes públicos, não especialmente em policiais. É a ausência, despreparo ou incompetência das instituições voltadas para a prestação de serviços aos cidadãos. Um simples, mas emblemático exemplo: quando alguém suborna um agente para não ter seu carro levado para um depósito nos confins, inclusive sujeito a ser depenado, é porque o prejuízo do não subornar pode se tornar inviável de ser pago. Por que será que tais depósitos estão repletos de sucatas? Fosse o Estado ágil, eficiente, desburocratizado, com certeza teríamos a eliminação de uma das principais fontes de corrupção: a técnica de criar dificuldade para gerar facilidade.


quarta-feira, fevereiro 21, 2018

OTÁRIO DA SILVA E A INTERVENÇÃO NO RIO

Eremildo, personagem criado pelo jornalista Elio Gaspari, é um idiota. Ele não entende as coisas da política. Mas está no dicionário que idiota é aquele que "carece de inteligência". Eu não acho que careço de inteligência. Nem acho que meus amigos ou o "povo" brasileiro careçam de inteligência. Lula não estudou, não gosta de ler, mas é voz corrente que "Lula não é idiota, é muto inteligente!" Então tá.

Posto que não somos idiotas, se impõe nos vermos em outra categoria a considerar o que o grande conglomerado Oligarquia & Mídias Tradicionais nos apresentam diariamente. É aí que eu me sinto um Otário da Silva. Ou, mais apropriadamente, um Otário Von Vogel. Nunca me dizem a verdade. Tudo o que ouço é carregado de hipocrisia. É um volume incalculável de "me engana que eu gosto". Mas eu não gosto!

Vejamos esta intervenção militar na área de segurança do Estado do Rio de Janeiro. Nos poucos noticiários a que dei atenção, só ouvi de tudo sobre combater consequências. Sobre eliminar causas, nada. Todos, igualmente, ignoram o passado. Ninguém estudou história, nem ao menos consultaram as decisões de passados mais recentes como vou procurar mostrar mais à frente.

Começo pela fala do General Augusto Heleno, general da reserva, primeiro comandante da força militar da ONU no Haiti, na entrevista à Rádio BandNews (também participou do programa Painel, da GloboNews, em 17/2/18). Acredita ele que haverá uma "intensificação do trabalho de inteligência nas operações pontuais em cima de alvos compensadores (...). Eu acredito (...) que a regra de engajamento seja modificada. Nós tínhamos no Haiti regras (...) que permitiam (...) [que o sujeito] que fosse o (...) fosse o ator de um ato ou intenção hostil, (...) o Comandante (...) e até o nível de sargento, tinham poder para  (...) agir chegando inclusive à letalidade, podia matar o indivíduo"

E mais à frente.

"Estou raciocinando com (...) Ações onde haja muito pouca troca de disparos. Onde os disparos aconteçam de um lado só e a morte aconteça do outro lado. Eu vou ter mortos sim, mas vou ter morto do lado certo."

O General, respaldado por uma vivência focada na guerra, ou seja, em estratégia para que soldados "do lado certo" matem soldados "do lado errado" (e vice-versa) crê resolver a questão.

No campo de batalha, estaria certíssimo. Mas, o General, como tal, só consegue interpretar como uma guerra aquilo que é consequente de um caos social. Não é uma guerra. Se queremos usar metáforas, a que mais se presta ao Brasil é um faroeste tupiniquim de mocinhos (o lado certo) contra bandidos (o lado errado) - aí sim é possível pensar em disparos certeiros onde a morte aconteça apenas do outro lado. Sendo o mocinho ou o bandido aquele que sai morto, no dia seguinte tem um novo no seu lugar. Guerras terminam com um general, seja ele do lado certo ou do errado, levantando a bandeira branca em sinal de redenção.

O que o General, a mídia e a oligarquia dirigente corrompida, e políticos atrás de voto,  ignoram, é que dar segurança para uma cidade, estado ou país, não tem um fim com a morte dos soldados "do outro lado" seguida de um acordo celebrando o fim da guerra onde constam cláusulas de alguma compensação que será paga pelos cidadãos sobreviventes, outras que protegem o destino dos Generais derrotados e outras a glória dos vencedores. Mas o fato principal é: ao eliminar os cabeças, os soldados sobreviventes voltam em paz para suas famílias.

Como tem como objetivo apenas matar os soldados "do lado errado", é preciso que tenha um prazo para que a tarefa seja executada e possam ser extraídos índices de sucesso. Ou insucesso. Saberemos em 1 de janeiro de 2019. Neste dia seguinte, as tropas voltarão para seus quartéis de origem, deixando como resultado um número estatístico de pobres, pretos-mulatos-brancos, mortos nas vielas das "comunidades". Jovens sem pátria, sem direitos, e profundamente frustrados com a consciência de que o único futuro que lhes é permitido é o presente tomado na marra, na porrada, no arrastão, e do orgulho de por uns poucos dias ou meses foram poderosos portando uma arma de alto poder letal. Ao final da intervenção, o crime organizado mais organizado estará, com certeza. Os "generais" dos comandos das facções, estarão repondo soldados e articulando novas ações. Ao final e como sempre no passado e no futuro, sobrarão mães destroçadas com a perda de forma brutal, violenta, de seus filhos.

Esta intervenção não acabará com o fim do conflito. O General Heleno fala em usar "trabalho de inteligência" para atingir "alvos compensadores". Eu e o General devemos  ter visões diferentes sobre o que sejam tais alvos. De minha parte, penso que seriam os chefões de facções criminosas, as portas de entrada do tráfico de armas e drogas, a expulsão de agentes corrompidos no seio das instituições ligadas à segurança e a identificação de advogados e políticos que acobertam, garantem. por ação própria, ou por ação legislativa, ou por ação executiva, ou por ação judicial, a manutenção de tudo como está. Da parte do General... não tenho ideia do que ele quis dizer.

A diferença entre o ontem, sem intervenção e sem Generais, e o hoje, será só uma questão de quantidade de mortos a se acreditar na eficiência que todos na hierarquia desta "solução", esperam.

O dia seguinte será então igual ao ontem. Escalada de violência sem a presença do Exército. Marcolas e irmãos em armas e celas, comandando como sempre todo um submundo de fuzis e drogas. Políticos limitados pelos recursos orçamentários, ou reféns do medo, ou da ameaça à própria vida, ou do dinheiro das organizações criminosas, ou de um mix de tudo isto. Polícias despreparadas, desequipadas, mal-remuneradas e frustradas pelo sentimento de estarem sempre "enxugando gelo", atrás do prejuízo, revoltadas com os alvarás de soltura expedidos por juízes defensores dos direitos dos "mais humanos" que nós simples otários humanos. E vamos continuar com uma Constituição que construiu um arcabouço de proteção aos pobres cidadãos encarcerados, dando-lhes salário reclusão para a família do assassino, e uma "banana" para a família destroçada pela perda de um filho, de um irmão, de um pai. Será que o Estado arcou com as despesas do funeral?


Ora, direis, o que então estás a dizer, ô pá!

Aguardem o próximo capítulo, digo, post.

Ass: Otário Von Vogel